“Tudo está interligado como se fôssemos um
Tudo está interligado, nesta Casa comum”
A política de saúde e de segurança alimentar vem enfrentando um processo de desconstrução no país que se radicaliza com os ataques à democracia brasileira e a pandemia da COVID-19. A extinção do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) acontece concomitantemente quando o Programa Brasileiro de Aids, que outrora foi referência mundial no enfrentamento da epidemia, é extinto através do Decreto 9.795/19, escondendo “HIV/Aids” e fundindo ao “Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis”.
Se por um lado 25,7% das famílias em realidade de fome residem na Amazônia¹, por outro vemos o aumento de infecção ao HIV, detecção e óbitos em decorrência da aids nesta região, sobretudo no Acre, Pará e Tocantins². Nestas realidades, as questões de gênero e raça/cor destacam-se: “a fome atinge mais as famílias que têm mulheres como responsáveis ou em que a pessoa de referência se denomina de cor preta ou parda”³.
Ainda que as formas de transmissão do vírus não estejam ligadas a causas ambientais, as mudanças causas pela construção de barragens (hidroelétricas), o desmatamento (madeireiras, agronegócio, etc.) e outras grandes ofensas a biodiversidade, além de prejudicar a produção alimentícia, provoca uma intensa migração de pessoas que, em busca de melhores condições de vida, têm acrescida suas vulnerabilidades por fatores sociais, econômicos, estruturais e culturais.
Estes grandes projetos de infraestrutura e o agronegócio na Amazônia, além dos impactos nos sistemas alimentares, aumentam os riscos para a disseminação do HIV e podem afetar na adesão ao tratamento. A substituição por alimentos ultraprocessados são “prato cheio” para consequências à saúde física ou psíquica, sobretudo de pessoas que com o sistema imunológico comprometidos pelo vírus da aids.
O silenciamento invisibiliza a realidade das pessoas que não estão “portadoras”, mas que vivem e convivem com HIV e também, não apenas estão com fome, mas que têm fome. É preciso voltar as fontes amazônicas de solidariedade e resistência pois urge a necessidade de nutrir a esperança e superar as desigualdades que provocam a fome e a aids pois “quem tem fome, tem pressa” (Betinho).
Eduardo da Amazônia - eduardopaidegua@hotmail.com
Educador Popular em Saúde e Coordenador Regional da Pastoral da Aids - CNBB Norte 2
Atualmente compõe a Equipe Regional de Animação da Campanha da Fraternidade 2023
¹ Cf. 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - Rede PENSSAN. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert, 2022.
² Boletim Epidemiológico HIV/aids - 2022. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (DCCI/SVS/MS).
³ “Texto-base da Campanha da Fraternidade 2023, nº 41. Edições CNBB, 2022
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